Por Rainer Sousa
Mestre em História
A proclamação do regime republicano
brasileiro aconteceu em decorrência da crise do poder imperial, ascensão de
novas correntes de pensamento político e interesse de determinados grupos
sociais. Aos fins do Segundo Reinado, o governo de Dom Pedro II enfrentou esse
quadro de tensões responsável pela queda da monarquia.
Mesmo buscando uma posição política
conciliadora, Dom Pedro II não conseguia intermediar os interesses confiantes
dos diferentes grupos sociais do país. A questão da escravidão era um dos
maiores campos dessa tensão político-ideológica. Os intelectuais, militares e
os órgãos de imprensa defendiam a abolição como uma necessidade primordial
dentro do processo de modernização sócio-econômica do país.
Por um lado, os fazendeiros da
oligarquia nordestina e sulista faziam oposição ao fim da escravidão e, no
máximo, admitiam-na com a concessão de indenizações do governo. De outro, os
cafeicultores do Oeste Paulista apoiavam a implementação da mão-de-obra assalariada
no Brasil. Durante todo o Segundo Reinado essa questão se arrastou e ficou
presa ao decreto de leis de pouco efeito prático.
Os abolicionistas, que associavam a
escravidão ao atraso do país, acabavam por também colocar o regime monárquico
junto a essa mesma idéia. É nesse contexto que as idéias republicanas ganham
espaço. O Brasil, única nação americana monarquista, se transformou num palco
de uma grande campanha republicana apoiada por diferentes setores da sociedade.
A partir disso, observamos a perda das bases políticas que apoiavam Dom Pedro
II. Até mesmo os setores mais conservadores, com a abrupta aprovação da Lei
Áurea, assinada pela princesa Isabel, começaram a ver a monarquia como um
regime incapaz de atender os seus interesses.
A Igreja, setor de grande
influência ideológica, também passou a engrossar a fila daqueles que maldiziam
o poder imperial. Tudo isso devido à crise nas relações entre os clérigos e Dom
Pedro II. Naquela época, de acordo com a constituição do país, a Igreja era subordinada
ao Estado por meio do regime de padroado. Nesse regime, o imperador tinha o
poder de nomear padres bispos e cardeais.
Em 1864, o Vaticano resolveu
proibir a existência de párocos ligados à maçonaria. Valendo-se do regime do
padroado, Dom Pedro II, que era maçom, desacatou a ordem papal e repudiou
aqueles que seguiram as ordens do papa Pio IX. Mesmo anulando as punições
dirigidas aos bispos fiéis ao papa, D. Pedro II foi declarado autoritário e
infiel ao cristianismo.
Ao mesmo tempo, alguns representantes
do poder militar do Brasil começaram a ganhar certa relevância política. Com a
vitória na Guerra do Paraguai, o oficialato alcançou prestígio e muitos jovens
de classes médias e populares passaram a ingressar no Exército. As instituições
militares dessa época também foram influenciadas pelo pensamento positivista,
que defendia a “ordem” como caminho indispensável para o “progresso”. Desta
forma, os oficiais – que já se julgavam uma classe desprestigiada pelo poder
imperial – compreendiam que o rigor e a organização dos militares poderiam ser
úteis na resolução dos problemas do país.
Os militares passaram a se opor
ferrenhamente a Dom Pedro II, chegando a repudiar ordens imperiais e realizar
críticas ao governo nos meios de comunicação. Em 1873, foram criados o Partido
Republicano e o Partido Republicano Paulista. Aproximando-se dos militares
insatisfeitos, os republicanos organizaram o golpe de Estado contra a
monarquia.
Nos fins de 1889, sob fortes
suspeitas que Dom Pedro II iria retaliar os militares, o marechal Deodoro da
Fonseca mobilizou suas tropas, que promoveram um cerco aos ministros imperiais
e exigiram a deposição do rei. Em 15 de novembro daquele ano, o republicano
José do Patrocínio oficializou a proclamação da República.
Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/historiadobrasil/proclamacao-republica.htm